O homem é um animal social. Esta premissa filosófica estabelecida por John Locke no século XVII é ainda hoje geralmente aceite, excepto quando vamos à casa de banho, onde francamente nos sabe bem um pouco de sossego.
O homem vive e define-se em sociedade, aliás a maioria das nossas qualidades e defeitos são facilmente amplificados ou anulados pelas nossas aptidões sociais. Um tipo com uma inteligência claramente acima da média é completamente inútil para a sociedade quando se torna insuportável para todos os que o rodeiam. Ninguém gosta de ser gozado. Preferimos sempre ter por companhia pessoas relativamente inaptas no que toca a apreciar ópera ou recitar o alfabeto grego, desde que sejam bons compinchas de copos ou consigam contar até 10 num único arroto.
Vivemos em diferentes grupos e neles construímos a nossa memória e identidade. O nosso grupo de amigos de infância, o grupo da escola ou da universidade, o grupo do nosso primeiro emprego, cada um lembra-nos de como éramos nessa altura. Transitamos de um grupo para outro, e como um camaleão vamos subtilmente ganhando novas cores enquanto muda o nosso pano de fundo.
Há um momento precioso na vida de cada grupo em que se atinge a sintonia perfeita. Cada pessoa conhece bem o seu papel, há uma química estabelecida no relacionamento mútuo, uma linguagem própria e apertos-de-mão secretos. Trocamos alcunhas e damos alegremente calduços uns aos outros. Podemos ser os palhaços do grupo, o porreiraço ou o chonas, o gajo que manda as piadas ou o gajo sobre quem se contam piadas, mas temos sempre orgulho em fazer parte do grupo.
Por vezes essa harmonia perde-se, sem se dar por isso, porque alguém muda de emprego ou muda de cidade, porque um casal se separa, porque alguém deixou de ter tempo para dedicar à tribo ou porque a vida o mudou não apenas por fora. Todos os outros continuam, os mesmos, mas juntos já não são exactamente o mesmo. Perde-se o momentum do grupo, a zona de conforto, esse período dourado em que um grupo é muito mais que a soma das partes.
É assim em tudo. A equipa do Benfica dos anos 60, o elenco original do Ally McBeal, o grupo de amigos do colégio, a maioria dos grupos não resiste ao tempo e à mudança, deixam de se encontrar nas suas rotinas. Life goes on. Talvez tenham tido provas de fogo que não conseguiram superar. Talvez tenha havido um momento em que alguns cresceram demasiado depressa e deixaram de se rir das mesmas piadas.
Mas outros, como o elenco do Seinfeld ou do Friends, mantêm a magia, conseguem evoluir sem perder a espontaneidade, talvez porque se mantenham infantis depois de muitos anos que atravessam casamentos e primeiros filhos, ou talvez por saberem que é sempre melhor continuar juntos a ver como a vida nos muda.
Thursday, December 29, 2005
Monday, December 12, 2005
Um dia no Estádio
Ir ao Estádio da Luz é muito mais do que ir ver futebol. É que boa parte do espectáculo passa-se nas bancadas, no meio daquilo que Gabriel Alves definiu como a moldura humana, aquele ambiente de circo romano onde o povo se encontra para descarregar as agruras do dia-a-dia e mandar as suas bojardas de fim de semana. No Terceiro Anel sentimo-nos em casa, sobretudo se a nossa casa cheirar a cerveja e arroto e toda a gente berrar uns com os outros, entre outras coisas que definem um lar feliz.
Na grande família do Estádio da Luz encontram-se pessoas que se entregam a uma mesma comunhão pondo de lado as suas diferenças, personagens ímpares e invulgares que se sentam ao lado de outras absolutamente normais.
O treinador de bancada
O verdadeiro treinador de bancada é normalmente um gajo com razoável bom senso, que tenta fazer valer as suas opiniões técnico-tácticas gritando indicações para o treinador durante os 90 minutos. Quando o Benfica está a perder, ele grita pelo Mantorras. Quando o Benfica está a ganhar, ele grita pelo Mantorras. O treinador de bancada nunca será um treinador a sério, porque lhe falta a originalidade e ousadia de ir para além do senso comum, sendo incapaz de rasgos como meter o Carlitos a titular contra o Sporting ou insistir no Michael Thomas como trinco de marcação.
O velho rezingão
O velho rezingão é o adepto jurássico que se lembra de ir ver jogos ao campo da Amoreira e de jogar às cartas com o Borges Coutinho. Fiel ao seu Benfica, assiste aos jogos com um misto de nostalgia e sofrimento, lamentando eternamente o Eusébio já não poder calçar as chuteiras e entrar em campo. Para o velho rezingão, não há nada como os bons velhos tempos do Coluna e do Jaime Graça, lateral direito como o Simões ou ponta-de-lança como o Torres. Parco em elogios às equipas do Benfica pós-anos 70, é difícil arrancar-lhe um sorriso durante o jogo, mas ele lá continua a ir todos os Domingos ao estádio para contar à malta como é que era.
O puto e o pai
A educação de uma criança faz-se destes momentos de cumplicidade entre pai e filho que só uma ida à bola proporciona. Vestido a rigor de boné e cachecol e com uma bandeira orgulhosamente hasteada na mão direita, o puto começa a gostar de futebol, aprende a saborear um bom courato e ouve os primeiros palavrões. Durante os jogos o puto não para de fazer perguntas sobre o fora-de-jogo e os nomes dos jogadores para desespero do pai, que volta e meia lhe enfia um tabefe para que o deixe sossegado a beber a sua Sagres. Mas lá fazem as pazes quando o puto diz “ó pai, o árbitro é filho da puta, não é?”, ao que o progenitor não consegue disfarçar uma pequena lágrima de orgulho.
O gajo-que-sai-mais-cedo
O gajo-que-sai-mais-cedo odeia trânsito, por isso chega três horas antes do jogo para ter lugar perto do Estádio e fazer a sua voltinha pela loja do Benfica. Como todos os adeptos, começa a ficar nervoso perto do final do jogo, não porque o jogo continua empatado e não há maneira de marcarmos um golo, mas porque “a esta hora a segunda circular deve estar um espectáculo”. No fundo basta-lhe sair cinco minutos mais cedo para chegar num instante ao carro e ainda ouvir o fim do relato, sem confusões. O único momento infeliz na vida do gajo-que-sai-mais-cedo é quando vai a descer a escadaria e ouve um bruá enorme a toda a volta, enquanto o Luisão marca o golo decisivo que deu o campeonato ao Benfica.
O mediático
O mediático é o Che Guevara dos adeptos, um sindicalista que não falha uma Assembleia Geral e que vai aparecendo nos momentos importantes da vida do clube. Toda a gente o conhece, já o viu nos telejornais e na capa d’A Bola apesar de não lhe conhecer o nome. O Benfica ganha ao Porto nas Antas, e lá está “o Barbas” a estender a bandeira ao Eriksson no aeroporto e a rezar a meca, discute-se em assembleia o financiamento do novo estádio e lá está “o-gajo-do-bigode” a dizer umas barbaridades incompreensíveis e a acabar cada frase com “Vivó Benfica! Vivó Benfica! Vivó Benfica!”. É o sonho do adepto anónimo.
O gajo-contra-o-mundo
O gajo-contra-o-mundo já está irritado antes do jogo começar. Anti-social por natureza, ele vem ao estádio para descarregar a sua raiva e insultar quem lhe aparecer à frente. Apesar de ser do Benfica, passa o jogo a chamar nomes aos jogadores e a incentivar a equipa contrária a marcar um golo, “para ver se aprendem a jogar à bola, seus c**** do c*******”. Se o Geovanni marca um golo no último minuto, deixa-se ficar sentado e diz “’tava a ver que falhavas, meu f**** da p****”.
O cómico
O cómico é um animal de palco, e o seu palco é o Terceiro Anel. Mais interessado em soltar umas gargalhadas do que em ver a sua equipa marcar golos, vai soltando umas piadas de caserna e animando a malta à volta. O cómico tem uma cultura acima da média e faz por isso comentários mais refinados sobre a prestação da equipa, como “Artur Jorge e se fosses mas é escrever poesia prá Sibéria”, “Carlitos troca as chuteiras” ou “ó Nuno Gomes vai prá Ismérnia!”.
A velhinha-no-carro
A velhinha-no-carro não é vista normalmente nas bancadas porque passa o jogo à espera do marido no carro, já que prefere ficar no sossego do Citroën BX a recuperar o atraso no crochet e fazer uns quantos Sudokus. É o exemplo perfeito da lealdade das mulheres à antiga, e a prova de como é bonito um casal partilhar um hobby em comum.
(Como é lindo o meu Benfica!)
Na grande família do Estádio da Luz encontram-se pessoas que se entregam a uma mesma comunhão pondo de lado as suas diferenças, personagens ímpares e invulgares que se sentam ao lado de outras absolutamente normais.
O treinador de bancada
O verdadeiro treinador de bancada é normalmente um gajo com razoável bom senso, que tenta fazer valer as suas opiniões técnico-tácticas gritando indicações para o treinador durante os 90 minutos. Quando o Benfica está a perder, ele grita pelo Mantorras. Quando o Benfica está a ganhar, ele grita pelo Mantorras. O treinador de bancada nunca será um treinador a sério, porque lhe falta a originalidade e ousadia de ir para além do senso comum, sendo incapaz de rasgos como meter o Carlitos a titular contra o Sporting ou insistir no Michael Thomas como trinco de marcação.
O velho rezingão
O velho rezingão é o adepto jurássico que se lembra de ir ver jogos ao campo da Amoreira e de jogar às cartas com o Borges Coutinho. Fiel ao seu Benfica, assiste aos jogos com um misto de nostalgia e sofrimento, lamentando eternamente o Eusébio já não poder calçar as chuteiras e entrar em campo. Para o velho rezingão, não há nada como os bons velhos tempos do Coluna e do Jaime Graça, lateral direito como o Simões ou ponta-de-lança como o Torres. Parco em elogios às equipas do Benfica pós-anos 70, é difícil arrancar-lhe um sorriso durante o jogo, mas ele lá continua a ir todos os Domingos ao estádio para contar à malta como é que era.
O puto e o pai
A educação de uma criança faz-se destes momentos de cumplicidade entre pai e filho que só uma ida à bola proporciona. Vestido a rigor de boné e cachecol e com uma bandeira orgulhosamente hasteada na mão direita, o puto começa a gostar de futebol, aprende a saborear um bom courato e ouve os primeiros palavrões. Durante os jogos o puto não para de fazer perguntas sobre o fora-de-jogo e os nomes dos jogadores para desespero do pai, que volta e meia lhe enfia um tabefe para que o deixe sossegado a beber a sua Sagres. Mas lá fazem as pazes quando o puto diz “ó pai, o árbitro é filho da puta, não é?”, ao que o progenitor não consegue disfarçar uma pequena lágrima de orgulho.
O gajo-que-sai-mais-cedo
O gajo-que-sai-mais-cedo odeia trânsito, por isso chega três horas antes do jogo para ter lugar perto do Estádio e fazer a sua voltinha pela loja do Benfica. Como todos os adeptos, começa a ficar nervoso perto do final do jogo, não porque o jogo continua empatado e não há maneira de marcarmos um golo, mas porque “a esta hora a segunda circular deve estar um espectáculo”. No fundo basta-lhe sair cinco minutos mais cedo para chegar num instante ao carro e ainda ouvir o fim do relato, sem confusões. O único momento infeliz na vida do gajo-que-sai-mais-cedo é quando vai a descer a escadaria e ouve um bruá enorme a toda a volta, enquanto o Luisão marca o golo decisivo que deu o campeonato ao Benfica.
O mediático
O mediático é o Che Guevara dos adeptos, um sindicalista que não falha uma Assembleia Geral e que vai aparecendo nos momentos importantes da vida do clube. Toda a gente o conhece, já o viu nos telejornais e na capa d’A Bola apesar de não lhe conhecer o nome. O Benfica ganha ao Porto nas Antas, e lá está “o Barbas” a estender a bandeira ao Eriksson no aeroporto e a rezar a meca, discute-se em assembleia o financiamento do novo estádio e lá está “o-gajo-do-bigode” a dizer umas barbaridades incompreensíveis e a acabar cada frase com “Vivó Benfica! Vivó Benfica! Vivó Benfica!”. É o sonho do adepto anónimo.
O gajo-contra-o-mundo
O gajo-contra-o-mundo já está irritado antes do jogo começar. Anti-social por natureza, ele vem ao estádio para descarregar a sua raiva e insultar quem lhe aparecer à frente. Apesar de ser do Benfica, passa o jogo a chamar nomes aos jogadores e a incentivar a equipa contrária a marcar um golo, “para ver se aprendem a jogar à bola, seus c**** do c*******”. Se o Geovanni marca um golo no último minuto, deixa-se ficar sentado e diz “’tava a ver que falhavas, meu f**** da p****”.
O cómico
O cómico é um animal de palco, e o seu palco é o Terceiro Anel. Mais interessado em soltar umas gargalhadas do que em ver a sua equipa marcar golos, vai soltando umas piadas de caserna e animando a malta à volta. O cómico tem uma cultura acima da média e faz por isso comentários mais refinados sobre a prestação da equipa, como “Artur Jorge e se fosses mas é escrever poesia prá Sibéria”, “Carlitos troca as chuteiras” ou “ó Nuno Gomes vai prá Ismérnia!”.
A velhinha-no-carro
A velhinha-no-carro não é vista normalmente nas bancadas porque passa o jogo à espera do marido no carro, já que prefere ficar no sossego do Citroën BX a recuperar o atraso no crochet e fazer uns quantos Sudokus. É o exemplo perfeito da lealdade das mulheres à antiga, e a prova de como é bonito um casal partilhar um hobby em comum.
(Como é lindo o meu Benfica!)
Friday, December 02, 2005
Mrauk U, Birmânia
Muita gente questiona se se deve visitar a Birmânia (Myanmar), tendo em conta a opressão que a junta militar instalada pratica desde 1988. A própria Aung San Suu Kyi, prémio Nobel da Paz, pediu que turistas se abstivessem de visitar o país, por parte do dinheiro acabar nas mãos dos opressores, por ser um potencial sinal de aprovação internacional, porque algumas das infraestruturas turísticas foram construídas com a mão-de-obra de trabalho forçado.
O site da Lonely Planet lista os pros e contras de visitar a Birmânia. Alguns dos "pros" são a possibilidade de contribuir para a melhoria das condições de vida das populações locais, a maior dificuldade que qualquer forma de poder terá de cometer atrocidades com o testemunho de visitantes estrangeiros, ou o peso que uma maior dependência do negócio do turismo poderá ter sobre a condução da política interna no futuro.
Decidir não visitar a Birmânia significa também deixar o povo birmanês definitivamente isolado, fechado ao mundo, não permitindo qualquer contacto com o mundo ocidental e uma certa ideia de liberdade.
E nunca ver in loco imagens como esta, em Mrauk U, antiga capital da Birmânia.
Tuesday, November 29, 2005
Joyeux Noël
A Fnac associou-se à AMI para uma iniciativa de solidariedade, no mínimo, invulgar. De 1 a 24 de Dezembro, por cada voluntário que “responder ao apelo” e se inscrever para trabalhar a fazer embrulhos de Natal, a FNAC fará um donativo à AMI.
Andei a debater-me internamente sobre o mérito desta iniciativa, que pode ser vista por alguns como inovadora e plena de oportunidade. Afinal a maioria das pessoas têm pouca disponibilidade para um voluntariado que implique envolver-se no terreno com a pobreza, a miséria, a exclusão social. Assim, dão parte do seu tempo a uma causa nobre passando algumas horas a embrulhar presentes numa loja Fnac e ajudam indirectamente a AMI a recolher donativos.
Parto do princípio que a Fnac é uma pessoa de bem e gastará o mesmo dinheiro em donativos para a AMI que gastou o ano passado contratando trabalhadores temporários, mesmo descontando o benefício fiscal que recebem por apoiar uma instituição de apoio social.
É uma feliz coincidência de vontades em que todos ganham: a Fnac, a AMI que recolhe donativos e os voluntários pelo mérito de darem o seu tempo por uma causa justa.
Mas se isto é assim tão louvável porque é que me dá a volta ao estômago? Porque é que isto me soa mal?
É que ser voluntário para embrulhar presentes de Natal faz-me tanto sentido como um vegan trabalhar a cortar picanha no Chimarrão. Soa-me estranho o conflito de interesses. Uma causa nobre a reboque da fúria consumista do Natal. Dinheiro bem gasto Vs dinheiro deitado à rua. Um quadro que um olhar cínico descreveria como a celebração do materialismo da época, alimentado - quase desculpabilizado - por uma acção de solidariedade.
A história de uma sociedade desmesuradamente consumista a gastar dinheiro que não tem em presentes que não gosta de dar, enquanto simpáticos voluntários se encarregam de os embrulhar a troco de umas migalhas.
Jusqu’ici, tout va bien...
Andei a debater-me internamente sobre o mérito desta iniciativa, que pode ser vista por alguns como inovadora e plena de oportunidade. Afinal a maioria das pessoas têm pouca disponibilidade para um voluntariado que implique envolver-se no terreno com a pobreza, a miséria, a exclusão social. Assim, dão parte do seu tempo a uma causa nobre passando algumas horas a embrulhar presentes numa loja Fnac e ajudam indirectamente a AMI a recolher donativos.
Parto do princípio que a Fnac é uma pessoa de bem e gastará o mesmo dinheiro em donativos para a AMI que gastou o ano passado contratando trabalhadores temporários, mesmo descontando o benefício fiscal que recebem por apoiar uma instituição de apoio social.
É uma feliz coincidência de vontades em que todos ganham: a Fnac, a AMI que recolhe donativos e os voluntários pelo mérito de darem o seu tempo por uma causa justa.
Mas se isto é assim tão louvável porque é que me dá a volta ao estômago? Porque é que isto me soa mal?
É que ser voluntário para embrulhar presentes de Natal faz-me tanto sentido como um vegan trabalhar a cortar picanha no Chimarrão. Soa-me estranho o conflito de interesses. Uma causa nobre a reboque da fúria consumista do Natal. Dinheiro bem gasto Vs dinheiro deitado à rua. Um quadro que um olhar cínico descreveria como a celebração do materialismo da época, alimentado - quase desculpabilizado - por uma acção de solidariedade.
A história de uma sociedade desmesuradamente consumista a gastar dinheiro que não tem em presentes que não gosta de dar, enquanto simpáticos voluntários se encarregam de os embrulhar a troco de umas migalhas.
Jusqu’ici, tout va bien...
Wednesday, November 23, 2005
Exercise your Music Muscle
Este anúncio da Virgin Digital é uma daquelas campanhas difíceis de descodificar. E por isso é que é brilhante, obrigando-nos a ficar horas a olhar para o anúncio, em vez dos habituais dois ou três segundos.
O desafio que nos lançam é "será que vocês percebem tanto de música como nós?". Na imagem estão escondidos nomes de bandas como os Rolling Stones, U2, etc. Dão-se alvíssaras a quem encontrar mais de cinquenta...
Monday, November 21, 2005
29
Fiz anos este Sábado. Vinte e nove. Não há nada de bom ou mau nisso, apenas um número diferente, que significa apenas mais um, e menos um também.
Há muitos anos perdi a fé na ideia da imortalidade, aquela ilusão de infância de que um dia, ainda no nosso tempo, a ciência encontrará uma cura para a morte. Procurei em Deus e no Homem, mas em nenhum encontrei conforto para o desassossego que me causava a ideia da morte. Em todas as ocasiões que a enfrentei desiludiu-me sempre.
Aos 29, talvez a juventude me comece a faltar e ainda a maturidade não tenha chegado para o compensar. Mas conheço já algumas das coisas da vida e escrevo os primeiros esboços da minha própria filosofia. Não acredito em viver cada dia como se fosse o último, essa fantasia adolescente que só se concretiza numas quantas noites de copos, mas que nunca chega a modo de vida. Amanhã acordamos de novo, as costas voltadas para o despertador, e voltamos todos para o escritório.
Acredito antes em viver esta vida como se fosse só uma. Esquecemo-nos demasiadas vezes que é só isto, e é tudo isto. Não há prolongamentos ou segundas oportunidades, e talvez esteja aí a beleza. Tudo o que é escasso é um pouco mais belo, um fogo de artifício, uma vela, o calor de uma lareira. Todos se recusam a ser cinza, e são sublimes no esplendor a que se entregam sem renúncia.
Anoto cá dentro todas as palavras que me aquecem e uso-as como cobertores sobre quem amo. Descalço a rotina sempre que posso. Acordo e decido continuar um sonho, porque nenhum risco é maior que o de nunca nos cumprirmos.
Vou procurar o velho paraíso e percorrer o mundo para tentar sentir um pouco do seu tamanho, encontrá-lo talvez entre os mares matinais do Índico e um entardecer estrelado no deserto de Atacama. A ti que me acompanhas nesta e noutra viagem, continuarei a dizer todos os dias que te amo, sempre que me apetecer, simplesmente porque o sinto e sinto cada vez mais.
Talvez um dia me vá embora, mas será sem arrependimentos. Tenho agora vinte e nove anos, mais um, e menos um também. Não importa, afinal há quem nunca comece a viver sequer.
Há muitos anos perdi a fé na ideia da imortalidade, aquela ilusão de infância de que um dia, ainda no nosso tempo, a ciência encontrará uma cura para a morte. Procurei em Deus e no Homem, mas em nenhum encontrei conforto para o desassossego que me causava a ideia da morte. Em todas as ocasiões que a enfrentei desiludiu-me sempre.
Aos 29, talvez a juventude me comece a faltar e ainda a maturidade não tenha chegado para o compensar. Mas conheço já algumas das coisas da vida e escrevo os primeiros esboços da minha própria filosofia. Não acredito em viver cada dia como se fosse o último, essa fantasia adolescente que só se concretiza numas quantas noites de copos, mas que nunca chega a modo de vida. Amanhã acordamos de novo, as costas voltadas para o despertador, e voltamos todos para o escritório.
Acredito antes em viver esta vida como se fosse só uma. Esquecemo-nos demasiadas vezes que é só isto, e é tudo isto. Não há prolongamentos ou segundas oportunidades, e talvez esteja aí a beleza. Tudo o que é escasso é um pouco mais belo, um fogo de artifício, uma vela, o calor de uma lareira. Todos se recusam a ser cinza, e são sublimes no esplendor a que se entregam sem renúncia.
Anoto cá dentro todas as palavras que me aquecem e uso-as como cobertores sobre quem amo. Descalço a rotina sempre que posso. Acordo e decido continuar um sonho, porque nenhum risco é maior que o de nunca nos cumprirmos.
Vou procurar o velho paraíso e percorrer o mundo para tentar sentir um pouco do seu tamanho, encontrá-lo talvez entre os mares matinais do Índico e um entardecer estrelado no deserto de Atacama. A ti que me acompanhas nesta e noutra viagem, continuarei a dizer todos os dias que te amo, sempre que me apetecer, simplesmente porque o sinto e sinto cada vez mais.
Talvez um dia me vá embora, mas será sem arrependimentos. Tenho agora vinte e nove anos, mais um, e menos um também. Não importa, afinal há quem nunca comece a viver sequer.
Wednesday, November 02, 2005
Vende-se, porra!
O direito é, para a maioria dos povos, um conjunto organizado de leis que rege a convivência em sociedade. Para os portugueses, é uma caça ao tesouro. Basta encontrar uma falha ou um atalho para ganhar o grande prémio. No fundo, os portugueses têm uma aptidão inata para furar o esquema.
Desde que me lembro, vejo carros espalhados pela cidade com folhas A4 coladas na janela com mensagens misteriosas e indirectas, normalmente acompanhadas de um número de telefone.
“Informa”
“Trata”
“Como novo”
“Bom estado”
“Um dono”
Esta é a linguagem de uma sociedade secreta que vive na clandestinidade, proibida de vender, esses donos de Opel Kadett, Fiat 127 e Citroën Visa por todo o país que procuram apenas uma oportunidade de melhorar a sua vida.
Segundo se diz, existe uma lei que proíbe que se ponha um carro à venda no meio da rua. Naturalmente, nada que impeça um português de vender o que bem quiser onde bem lhe apetecer. A proibição apela ao sindicalista em cada um de nós, aguça-nos a curiosidade e refina a imaginação.
Desde então, ninguém põe simplesmente o carro “à venda”, em vez disso põem o carro a tratar, ou dão informações sobre o carro. Às vezes apetece-me responder a um desses anúncios e pedir informações: que tempo vai fazer amanhã, onde fica a Rua do Rosário, qual é o número de telefone da Leitaria Saudade.
A minha teoria é que tudo isto é um boato que alguém lançou há muito tempo, e que hoje já ninguém tem coragem de pôr em causa. Por mim, tudo bem. Podemos continuar a brincar aos adultos, sempre ajuda o tempo a passar.
Desde que me lembro, vejo carros espalhados pela cidade com folhas A4 coladas na janela com mensagens misteriosas e indirectas, normalmente acompanhadas de um número de telefone.
“Informa”
“Trata”
“Como novo”
“Bom estado”
“Um dono”
Esta é a linguagem de uma sociedade secreta que vive na clandestinidade, proibida de vender, esses donos de Opel Kadett, Fiat 127 e Citroën Visa por todo o país que procuram apenas uma oportunidade de melhorar a sua vida.
Segundo se diz, existe uma lei que proíbe que se ponha um carro à venda no meio da rua. Naturalmente, nada que impeça um português de vender o que bem quiser onde bem lhe apetecer. A proibição apela ao sindicalista em cada um de nós, aguça-nos a curiosidade e refina a imaginação.
Desde então, ninguém põe simplesmente o carro “à venda”, em vez disso põem o carro a tratar, ou dão informações sobre o carro. Às vezes apetece-me responder a um desses anúncios e pedir informações: que tempo vai fazer amanhã, onde fica a Rua do Rosário, qual é o número de telefone da Leitaria Saudade.
A minha teoria é que tudo isto é um boato que alguém lançou há muito tempo, e que hoje já ninguém tem coragem de pôr em causa. Por mim, tudo bem. Podemos continuar a brincar aos adultos, sempre ajuda o tempo a passar.
Thursday, October 13, 2005
Estamos a ficar sem assunto
Sociólogos norte-americanos lançaram o alarme: o planeta está a ficar com falta de assunto. Segundo alguns estudos, as reservas mundiais estão à beira da exaustão, e os piores cenários apontam para que por volta do ano de 2027 deixe totalmente de haver assunto. A partir daí, prevê-se que as conversas se vão a limitar a pequenas interjeições como “Ahã”, “Hummm” e “Pois é, pois é”. Muito provavelmente, convidar alguém para ir "tomar um café" vai passar a ser apenas isso, um convite para beber café.
Nos últimos 20 anos, gastou-se mais assunto do que em toda a história até à data, registando-se já alguns embaraços com falhas ocasionais de assunto em espaços públicos, nomeadamente em elevadores, consultórios médicos e corredores de escritório.
O uso excessivo de telemóveis e a proliferação de blogs são algumas das causas apontadas para o problema. Tornou-se agora demasiado fácil para qualquer pessoa dar a sua opinião (mesmo que não tenha nenhuma), mandar o seu bitaite no messenger, comentar os assuntos do dia on-line, levando inevitavelmente a um desgaste acelerado de todos os temas de conversa.
Entre as medidas apontadas para poupar o uso de palavras e minorar os problemas causados pela falta de assunto, o estudo recomenda a suspensão por tempo indeterminado da utilização das palavras "que", "o", "a" e "piaçaba".
Para além disso, foram já estabelecidos contactos com vista à imediata suspensão do programa do Marcelo e a deportação do Rui Santos, Luís Delgado e Eduardo Prado Coelho para Marte.
Pronto, ok, então só o Luís Delgado.
Nos últimos 20 anos, gastou-se mais assunto do que em toda a história até à data, registando-se já alguns embaraços com falhas ocasionais de assunto em espaços públicos, nomeadamente em elevadores, consultórios médicos e corredores de escritório.
O uso excessivo de telemóveis e a proliferação de blogs são algumas das causas apontadas para o problema. Tornou-se agora demasiado fácil para qualquer pessoa dar a sua opinião (mesmo que não tenha nenhuma), mandar o seu bitaite no messenger, comentar os assuntos do dia on-line, levando inevitavelmente a um desgaste acelerado de todos os temas de conversa.
Entre as medidas apontadas para poupar o uso de palavras e minorar os problemas causados pela falta de assunto, o estudo recomenda a suspensão por tempo indeterminado da utilização das palavras "que", "o", "a" e "piaçaba".
Para além disso, foram já estabelecidos contactos com vista à imediata suspensão do programa do Marcelo e a deportação do Rui Santos, Luís Delgado e Eduardo Prado Coelho para Marte.
Pronto, ok, então só o Luís Delgado.
Monday, October 10, 2005
Monday, Monday
O problema não é só nunca mais ter três meses de férias como tínhamos na escola. É que a partir do momento em que começamos a trabalhar, todas as segundas-feiras são dia de regresso às aulas.
Thursday, September 29, 2005
Aeroplano
Não gosto de andar de avião. Já gostei, quando era miúdo, mas na altura até gostava de andar de autocarro ou de escorrega. Hoje em dia as imagens de desastres de avião por alguma razão insistem em aparecer-me durante a descolagem e aterragem do avião, prenúncios de algo que felizmente nunca acontece. É a imagem do Fight Club, as máscaras a voar e o chão lá em baixo iluminado, e nós em suspenso, peaceful as hindu cows. Medo.
Mas há pequenas coisas que continuam a exercer em mim um estranho fascínio - para além das hospedeiras, claro.
Uma delas é a casa de banho do avião. Um pequeno espaço só para nós, para estendermos as pernas à vontade, espremer pontos negros, ler o jornal, fazer a barba. Que maravilha, até podemos dar traques à vontade, o que nem sempre acontece em nossa própria casa. Fechamos a porta, e estamos imediatamente num T3, um privado só para nós numa discoteca cheia de gente. É simultâneamente o espaço mais claustrofóbico e mais amplo do mundo.
Outra experiência única é a espera pela mala. Esperar pela mala é das coisas mais estupidificantes que existem. Pacientemente e ordeiramente pomo-nos junto ao tapete rolante, a vê-las passar, quando no fundo sabemos que até elas aparecerem estão a ser pontapeadas e mal tratadas entre o porão do avião e os carregadores de malas. Estamos só à espera para ver o que é que sobra para levarmos para casa. E curiosamente, ainda se sente naqueles minutos de espera a mesma tensão que existe nas salas de bingo, as famílias a ver quem consegue receber primeiro as malas todas da prole e sair dali para fora. Os portugueses adoram a lotaria, mesmo que o prémio seja uma mala Samsonite que sempre foi deles, à qual partiram o cadeado e que tem agora uma marca de bota que nunca mais vai sair.
Depois, a porta de saída, com aquela escolha que nos é sempre proposta entre "Nada a Declarar" ou a "Alfândega". Qual é o contrabandista de marfim ou narcotraficante que, transportando 20 quilos de cocaína em supositórios, vai preferir passar pela alfândega? E se for apanhado a sair pela zona do "Nada a Declarar", será que a pena é maior? Dão-lhe uma reprimenda?
Finalmente, a saída, aqueles momentos quando vislumbramos a porta automática e entrevemos uma multidão eufórica do outro lado. Há algo de infantil e egocêntrico que nos faz sentir como Lindbergh quando atravessou o Atlântico e tinha uma parada de limousine à espera, confettis a voar, beijos e abraços e recepção presidencial. Durante uns breves instantes somos celebridades num teste de popularidade, com mil olhos a olhar para nós. Quem não tem ninguém à espera passa normalmente em passo largo, de olhos baixos fingindo indiferença. Eu pessoalmente adoro ter a família toda à espera, exagerar na gritaria e até nas saudades se a viagem foi curta, e voltar para mais perto do que é importante.
Mas há pequenas coisas que continuam a exercer em mim um estranho fascínio - para além das hospedeiras, claro.
Uma delas é a casa de banho do avião. Um pequeno espaço só para nós, para estendermos as pernas à vontade, espremer pontos negros, ler o jornal, fazer a barba. Que maravilha, até podemos dar traques à vontade, o que nem sempre acontece em nossa própria casa. Fechamos a porta, e estamos imediatamente num T3, um privado só para nós numa discoteca cheia de gente. É simultâneamente o espaço mais claustrofóbico e mais amplo do mundo.
Outra experiência única é a espera pela mala. Esperar pela mala é das coisas mais estupidificantes que existem. Pacientemente e ordeiramente pomo-nos junto ao tapete rolante, a vê-las passar, quando no fundo sabemos que até elas aparecerem estão a ser pontapeadas e mal tratadas entre o porão do avião e os carregadores de malas. Estamos só à espera para ver o que é que sobra para levarmos para casa. E curiosamente, ainda se sente naqueles minutos de espera a mesma tensão que existe nas salas de bingo, as famílias a ver quem consegue receber primeiro as malas todas da prole e sair dali para fora. Os portugueses adoram a lotaria, mesmo que o prémio seja uma mala Samsonite que sempre foi deles, à qual partiram o cadeado e que tem agora uma marca de bota que nunca mais vai sair.
Depois, a porta de saída, com aquela escolha que nos é sempre proposta entre "Nada a Declarar" ou a "Alfândega". Qual é o contrabandista de marfim ou narcotraficante que, transportando 20 quilos de cocaína em supositórios, vai preferir passar pela alfândega? E se for apanhado a sair pela zona do "Nada a Declarar", será que a pena é maior? Dão-lhe uma reprimenda?
Finalmente, a saída, aqueles momentos quando vislumbramos a porta automática e entrevemos uma multidão eufórica do outro lado. Há algo de infantil e egocêntrico que nos faz sentir como Lindbergh quando atravessou o Atlântico e tinha uma parada de limousine à espera, confettis a voar, beijos e abraços e recepção presidencial. Durante uns breves instantes somos celebridades num teste de popularidade, com mil olhos a olhar para nós. Quem não tem ninguém à espera passa normalmente em passo largo, de olhos baixos fingindo indiferença. Eu pessoalmente adoro ter a família toda à espera, exagerar na gritaria e até nas saudades se a viagem foi curta, e voltar para mais perto do que é importante.
Mais longe do que é importante
A TMN mudou de logo, de imagem e assinatura. De uma assentada, com o investimento certamente à escala megalómana destes face-liftings de marketing. Passou a usar o azul, o lettering mais redondo e largou o velhinho "Mais perto do que é importante".
Agora, a assinatura é "Até já". Desaparece assim uma frase que fez da TMN o que é hoje, um pouco gasta talvez, mas emocionalmente forte, que em algumas palavras estabelecia que "um telemóvel não é apenas tecnologia, é uma nova ferramenta do homem social, que eleva a condição humana, estabelece pontes e aproxima-nos uns dos outros". Um tributo às famílias, à amizade, às relações. É bonito, mas acabou-se.
Agora, a TMN diz simplesmente "Até já". Talvez seja um mal menor, porque se esta foi a frase escolhida, imagino as que ficaram de fora:
- Cháu aí
- Chauzinho
- Inté
- Fica bem
- A gente vê-se
- Boas
- Vou ali e já venho
- Jocas fôfas
...
PS: E amanhã vou de férias, tomem conta aqui do blog por mim. Inspector Serra, por favor zele pela seriedade dos comentários, se os houver. Até já.
Agora, a assinatura é "Até já". Desaparece assim uma frase que fez da TMN o que é hoje, um pouco gasta talvez, mas emocionalmente forte, que em algumas palavras estabelecia que "um telemóvel não é apenas tecnologia, é uma nova ferramenta do homem social, que eleva a condição humana, estabelece pontes e aproxima-nos uns dos outros". Um tributo às famílias, à amizade, às relações. É bonito, mas acabou-se.
Agora, a TMN diz simplesmente "Até já". Talvez seja um mal menor, porque se esta foi a frase escolhida, imagino as que ficaram de fora:
- Cháu aí
- Chauzinho
- Inté
- Fica bem
- A gente vê-se
- Boas
- Vou ali e já venho
- Jocas fôfas
...
PS: E amanhã vou de férias, tomem conta aqui do blog por mim. Inspector Serra, por favor zele pela seriedade dos comentários, se os houver. Até já.
Friday, September 23, 2005
Confessionário
Todos nós temos aquele mecanismo de auto-censura que, na maioria das vezes, nos impede de dizer em voz alta coisas absurdas que nos passam pela cabeça. É uma questão de sobrevivência social. Uma espécie de "políticamente incorrecto" pessoal, verdades momentâneas que preferimos varrer para debaixo do tapete.
Nos últimos tempos, estas foram algumas das barbaridades que tive a lucidez de não dizer em voz alta:
- A Ruth Marlene é gira.
- O Simão não anda a jogar nada.
- Os U2 são um bocado repetitivos.
- Aquilo do Live8 foi uma treta.
- Já não há pachorra para os incêndios.
- Ainda sou capaz de votar no Soares, porque o Soares é fixe e os outros não.
- Ainda sou capaz de votar no Carmona, só porque parece ser um gajo porreiro.
- A Fátima Felgueiras até tem um sorriso bonito.
- O Nicolau tem falta de pau.
Nos últimos tempos, estas foram algumas das barbaridades que tive a lucidez de não dizer em voz alta:
- A Ruth Marlene é gira.
- O Simão não anda a jogar nada.
- Os U2 são um bocado repetitivos.
- Aquilo do Live8 foi uma treta.
- Já não há pachorra para os incêndios.
- Ainda sou capaz de votar no Soares, porque o Soares é fixe e os outros não.
- Ainda sou capaz de votar no Carmona, só porque parece ser um gajo porreiro.
- A Fátima Felgueiras até tem um sorriso bonito.
- O Nicolau tem falta de pau.
O jovem Soares
Mário Soares está em pré-campanha no Brasil, onde contactou com empresários e emigrantes portugueses. No seu ar bonacheirão, enfrentou de frente o problema da idade, revelando aos presentes que "está de boa saúde, nunca teve problemas vasculares, e que nunca lhe foi retirada a próstata" (sic).
A política portuguesa não pára de surpreender.
Enquanto a maioria dos políticos faz promessas sobre relançar a economia ou manter a estabilidade governativa, o Mário Soares promete apenas manter-se vivo até ao fim do mandato. Ah, grande Marocas!
A política portuguesa não pára de surpreender.
Enquanto a maioria dos políticos faz promessas sobre relançar a economia ou manter a estabilidade governativa, o Mário Soares promete apenas manter-se vivo até ao fim do mandato. Ah, grande Marocas!
Friday, September 16, 2005
Enquanto isso, na Noruega...
Há dias, como notícia de abertura do jornal da manhã, a TSF anunciou pomposamente que "a Noruega é o melhor país do mundo para se viver". Assim, sem mais nem menos, como um facto confirmado.
Nunca fui à Noruega, mas duvido que seja o melhor país do mundo para se viver. Para mim não será certamente. Imagino um país em que "Verão" são uns quantos dias ali para meio de Julho com um cheirinho do que nós temos por Primavera, e em que o Inverno é longo, penosamente longo. Imagino semanas cinzentas de trabalho vingadas com bebedeiras desmesuradas ao fim de semana, elevadas taxas de suicídios e depressões e apesar disso os jardins sempre impecavelmente organizados, as cores por ordem alfabética. No norte da Noruega, o ano divide-se em seis meses de quase-penumbra e seis meses de um sol que não chega a ser quente e teima em não se pôr, vidas inteiras em jet lag permanente.
Mas segundo o Índice de Desenvolvimento Humano da ONU, a Noruega é também o primeiro país de um ranking que inclui estatísticas como o grau de alfabetização, o PIB per capita, o número de camas de hospital por mil habitantes ou índices de criminalidade. Daí até qualificar a Noruega como "o melhor país do mundo para viver", foi um atalho infeliz, afinal talvez a qualidade de vida se meça de outras formas, algumas até que não cabem em estatísticas.
Ouvi esta notícia de manhã cedo, estava eu no carro a caminho do trabalho e fazia um sol lá fora que dava vontade de dar meia volta e seguir para a Costa. Vinte e quatro graus de manhã. Tinha já combinado ir almoçar a uma esplanada e se conseguisse sair cedo do escritório ainda ia jantar com uns amigos à praia. Que se lixe o défice. Uma brisa quente entrava pela janela do carro, contrariando o calendário que já marcava Setembro, e Portugal era o melhor sítio do mundo para se estar nessa manhã.
Nunca fui à Noruega, mas duvido que seja o melhor país do mundo para se viver. Para mim não será certamente. Imagino um país em que "Verão" são uns quantos dias ali para meio de Julho com um cheirinho do que nós temos por Primavera, e em que o Inverno é longo, penosamente longo. Imagino semanas cinzentas de trabalho vingadas com bebedeiras desmesuradas ao fim de semana, elevadas taxas de suicídios e depressões e apesar disso os jardins sempre impecavelmente organizados, as cores por ordem alfabética. No norte da Noruega, o ano divide-se em seis meses de quase-penumbra e seis meses de um sol que não chega a ser quente e teima em não se pôr, vidas inteiras em jet lag permanente.
Mas segundo o Índice de Desenvolvimento Humano da ONU, a Noruega é também o primeiro país de um ranking que inclui estatísticas como o grau de alfabetização, o PIB per capita, o número de camas de hospital por mil habitantes ou índices de criminalidade. Daí até qualificar a Noruega como "o melhor país do mundo para viver", foi um atalho infeliz, afinal talvez a qualidade de vida se meça de outras formas, algumas até que não cabem em estatísticas.
Ouvi esta notícia de manhã cedo, estava eu no carro a caminho do trabalho e fazia um sol lá fora que dava vontade de dar meia volta e seguir para a Costa. Vinte e quatro graus de manhã. Tinha já combinado ir almoçar a uma esplanada e se conseguisse sair cedo do escritório ainda ia jantar com uns amigos à praia. Que se lixe o défice. Uma brisa quente entrava pela janela do carro, contrariando o calendário que já marcava Setembro, e Portugal era o melhor sítio do mundo para se estar nessa manhã.
Wednesday, September 14, 2005
Tuesday, September 13, 2005
Wednesday, September 07, 2005
Como escrever este post
A primeira frase é a mais difícil. Mais do que encontrar um assunto ou um novo ângulo para um tema sobre o qual tudo já foi dito e escrito, a primeira frase é o que verdadeiramente atormenta o escritor antes de se lançar sobre o teclado e atirar-se às palavras. A página em branco, cruelmente à espera de uma pequena frase brilhante que mereça interromper o seu silêncio. "Hummm, essa não me parece...". Uma frase que tem que convidar o leitor a ler mais, sem revelar demasiado, um aperitivo que tem por missão abrir o apetite, sem o estragar. Talvez seja por isso que uma frase curta resulte melhor, porque não compromete.
Depois da primeira frase, e sobretudo quando é passado já o primeiro parágrafo, tudo se torna mais fácil. Por esta altura não é preciso mais que manter o interesse, cultivá-lo, recompensar o leitor com uma metáfora aqui e ali, como quem casualmente atira sementes à terra pela graça do gesto em si, livre da expectativa de as ver crescer.
Se o leitor nos acompanha até aqui, é bom sinal, o principal agora é não abandonar o caminho iniciado e lentamente começar a preparar o final. Nas entrelinhas alimentar um crescendo de suspense e ir fazendo cair os véus, tentando não pensar no nervoso miudinho de quem não sabe ainda como vai acabar este texto. Sim, porque o fim está já no próximo parágrafo e exige uma frase ainda mais profunda, bem acabada, uma conjugação de palavras que arrebate o leitor ou que pelo menos não deite tudo a perder.
E quase sem dar por isso, só me falta agora uma ideia para começar a escrever o próximo texto.
Depois da primeira frase, e sobretudo quando é passado já o primeiro parágrafo, tudo se torna mais fácil. Por esta altura não é preciso mais que manter o interesse, cultivá-lo, recompensar o leitor com uma metáfora aqui e ali, como quem casualmente atira sementes à terra pela graça do gesto em si, livre da expectativa de as ver crescer.
Se o leitor nos acompanha até aqui, é bom sinal, o principal agora é não abandonar o caminho iniciado e lentamente começar a preparar o final. Nas entrelinhas alimentar um crescendo de suspense e ir fazendo cair os véus, tentando não pensar no nervoso miudinho de quem não sabe ainda como vai acabar este texto. Sim, porque o fim está já no próximo parágrafo e exige uma frase ainda mais profunda, bem acabada, uma conjugação de palavras que arrebate o leitor ou que pelo menos não deite tudo a perder.
E quase sem dar por isso, só me falta agora uma ideia para começar a escrever o próximo texto.
Monday, September 05, 2005
Banksy
Banksy é o nome de um artista inglês, de identidade desconhecida, que tem marcado com os seus graffitis uma forma de intervenção inteligente e mordaz. Crítica a quê? Ao capitalismo selvagem, ao modo de vida moderno - que tem mais de moderno que de vida, como dizia Quino. É um apelo ao desassossego, ao espírito crítico, à intervenção.
A sua última viagem levou-o a pintar vários graffitis sobre o muro da Palestina - um muro com a extensão de 700km e o dobro da altura do muro de Berlim que Israel está a construir a toda a volta dos territórios ocupados.
Ele transcreveu esta conversa com um velho palestiniano que passava:
-You paint the wall, you make it look beautiful.
-Thanks
-We don't want it to be beautiful, we hate this wall, go home.
www.banksy.co.uk
Wednesday, August 31, 2005
Elogio do Sossego
Gosto de sossego. Começa pela palavra em si, sossego, tão musical que parece ter sido pensada para embalar e ser dita baixinho, como um sussurro. Shh...
Ter um pouco de sossego não é fácil nos dias que correm. Antes para ter sossego bastava esticar os pés e calçar umas pantufas. Isso é que era bom. Não fazer nada era simplesmente o suficiente para termos sossego.
Hoje, para termos sossego, temos que ter algum trabalho. Temos que o preparar, marcar na agenda, às vezes até com alguma antecedência para não interferir com outros planos. Falo de sossego a sério, quando o tempo é realmente nosso e passa sem darmos por ele, assim de mansinho, e não de quaisquer cinco minutos de pausa. Have a break, have a Kit Kat? Para mim não chega.
O telemóvel é o maior inimigo do sossego, é como uma secretária demasiado eficiente que nunca se esquece de nos dar um recado. E que automaticamente nos obriga a responder a uma chamada, a um toque, a uma mensagem, e já agora a tê-lo ligado a qualquer hora do dia.
Não responder a uma mensagem, sem uma explicação decente, é sem dúvida má educação e falta de respeito. Desligar o telemóvel por umas horas só porque não queremos ser interrompidos vai exigir explicações: estamos sem rede, sem bateria, caíu à água, no fundo não interessa desde que seja remotamente plausível. Se desligámos o telemóvel e ele funcionava perfeitamente, somos anti-sociais ou estamos a caminho de uma depressão. Nunca a caminho do sossego.
Mas estar sossegado não implica ser um eremita ou anti-social, muito pelo contrário. Muitos dos meus melhores momentos de sossego são passados com amigos ou família, ao vivo e a cores, sem zapping ou interrupções.
Pelo direito ao sossego, por de vez em quando preferir uma conversa cara-a-cara sem toques polifónicos ou voicemail, à pausa para intervalo nestes dias que correm por vezes rápido demais.
Ter um pouco de sossego não é fácil nos dias que correm. Antes para ter sossego bastava esticar os pés e calçar umas pantufas. Isso é que era bom. Não fazer nada era simplesmente o suficiente para termos sossego.
Hoje, para termos sossego, temos que ter algum trabalho. Temos que o preparar, marcar na agenda, às vezes até com alguma antecedência para não interferir com outros planos. Falo de sossego a sério, quando o tempo é realmente nosso e passa sem darmos por ele, assim de mansinho, e não de quaisquer cinco minutos de pausa. Have a break, have a Kit Kat? Para mim não chega.
O telemóvel é o maior inimigo do sossego, é como uma secretária demasiado eficiente que nunca se esquece de nos dar um recado. E que automaticamente nos obriga a responder a uma chamada, a um toque, a uma mensagem, e já agora a tê-lo ligado a qualquer hora do dia.
Não responder a uma mensagem, sem uma explicação decente, é sem dúvida má educação e falta de respeito. Desligar o telemóvel por umas horas só porque não queremos ser interrompidos vai exigir explicações: estamos sem rede, sem bateria, caíu à água, no fundo não interessa desde que seja remotamente plausível. Se desligámos o telemóvel e ele funcionava perfeitamente, somos anti-sociais ou estamos a caminho de uma depressão. Nunca a caminho do sossego.
Mas estar sossegado não implica ser um eremita ou anti-social, muito pelo contrário. Muitos dos meus melhores momentos de sossego são passados com amigos ou família, ao vivo e a cores, sem zapping ou interrupções.
Pelo direito ao sossego, por de vez em quando preferir uma conversa cara-a-cara sem toques polifónicos ou voicemail, à pausa para intervalo nestes dias que correm por vezes rápido demais.
Tuesday, August 30, 2005
Desperate Housewife
A minha vizinha de baixo cheira mal. Em mais do que um sentido.
Não se trata apenas de uma falta de higiene pessoal. Isso seria estatisticamente normal e passaria facilmente despercebido nos transportes públicos.
O problema da minha vizinha é que ela tresanda a um mistério sujo e mesquinho, daqueles que as almas sinuosas fabricam quando a vida é vazia demais.
Para a descrever fisicamente é mais fácil começar por imaginar um homem. Um homem feio. Um homem feio, baixinho, gordo e a perder cabelo à frente. Acrescente-se um peito disforme e que começa debaixo dos sovacos, uns óculos à Mário Crespo nos anos 80, os dentes do Austin Powers e temos o retrato fiel da minha vizinha.
Vive sozinha e trabalha na Função Pública, num departamento obscuro onde certamente terá muito ainda que carimbar até ao fim dos seus dias, e faz as manhãs de Sábado na tabacaria do bairro para arredondar o fim do mês e ouvir em primeira mão as últimas intrigas da vizinhança. E certamente espalhar as suas.
A minha vizinha tem a idade incerta de quem deixou de cantar os parabéns por não ver nisso grandes motivos para festejar, uma idade que posso com alguma segurança situar algures entre os 30 e os 50 anos. Umas quantas décadas a cuidar dos pais doentes na sua casa da Estrela, uma vida humilde, uma pobreza amargada por ver o seu bairro recuperado e ter agora que suportar a proximidade de casais novos com algum dinheiro, exibindo ostensivamente a sua felicidade e as suas crianças pequenas, sorrisos que ela sempre invejou.
Até há bem pouco tempo, tinha por companhia um cão que ladrava incessantemente atrás da porta fosse a que horas fosse e deixava um cheiro a pêlos nas escadas da entrada, mas eu até encarava tudo isso desportivamente. Sempre gostei de cães, e deste só conseguia sentir pena. Provavelmente ladrava para o virem salvar, mas a morte levou-o primeiro. Paz à tua alma, Spencer.
A casa dela, pelo que pude entrever à soleira da porta, é um covil sombrio cheio de bonecas, sinais de uma solidão acelerada (às vezes oiço-a a falar sozinha, palavrões até). Uma colecção de bonecas de cerâmica, de olhos fixos de vidro e pestanas longas, com folhos, o cenário perfeito para um filme de terror série B.
...mas tudo isto me passaria ao lado, entre os cordiais “bom dia” e “boa tarde”, não fosse o incidente do respiradouro. Um conflito transfronteiriço entre condóminos, de contornos longos e detalhes maçadores, em que motivada por uma inveja mesquinha a minha vizinha me partiu uma estrutura de madeira que protegia as janelas do respiradouro do pátio.
Até aí inofensiva, a minha vizinha demonstrou da pior forma uma total falta de civismo, de educação, das mais elementares regras de convivência. Ou dito de uma outra forma:
Helena, seu bicho cobarde e rasteiro, escória da humanidade, vai morrer longe e leva a infelicidade contigo!
Não se trata apenas de uma falta de higiene pessoal. Isso seria estatisticamente normal e passaria facilmente despercebido nos transportes públicos.
O problema da minha vizinha é que ela tresanda a um mistério sujo e mesquinho, daqueles que as almas sinuosas fabricam quando a vida é vazia demais.
Para a descrever fisicamente é mais fácil começar por imaginar um homem. Um homem feio. Um homem feio, baixinho, gordo e a perder cabelo à frente. Acrescente-se um peito disforme e que começa debaixo dos sovacos, uns óculos à Mário Crespo nos anos 80, os dentes do Austin Powers e temos o retrato fiel da minha vizinha.
Vive sozinha e trabalha na Função Pública, num departamento obscuro onde certamente terá muito ainda que carimbar até ao fim dos seus dias, e faz as manhãs de Sábado na tabacaria do bairro para arredondar o fim do mês e ouvir em primeira mão as últimas intrigas da vizinhança. E certamente espalhar as suas.
A minha vizinha tem a idade incerta de quem deixou de cantar os parabéns por não ver nisso grandes motivos para festejar, uma idade que posso com alguma segurança situar algures entre os 30 e os 50 anos. Umas quantas décadas a cuidar dos pais doentes na sua casa da Estrela, uma vida humilde, uma pobreza amargada por ver o seu bairro recuperado e ter agora que suportar a proximidade de casais novos com algum dinheiro, exibindo ostensivamente a sua felicidade e as suas crianças pequenas, sorrisos que ela sempre invejou.
Até há bem pouco tempo, tinha por companhia um cão que ladrava incessantemente atrás da porta fosse a que horas fosse e deixava um cheiro a pêlos nas escadas da entrada, mas eu até encarava tudo isso desportivamente. Sempre gostei de cães, e deste só conseguia sentir pena. Provavelmente ladrava para o virem salvar, mas a morte levou-o primeiro. Paz à tua alma, Spencer.
A casa dela, pelo que pude entrever à soleira da porta, é um covil sombrio cheio de bonecas, sinais de uma solidão acelerada (às vezes oiço-a a falar sozinha, palavrões até). Uma colecção de bonecas de cerâmica, de olhos fixos de vidro e pestanas longas, com folhos, o cenário perfeito para um filme de terror série B.
...mas tudo isto me passaria ao lado, entre os cordiais “bom dia” e “boa tarde”, não fosse o incidente do respiradouro. Um conflito transfronteiriço entre condóminos, de contornos longos e detalhes maçadores, em que motivada por uma inveja mesquinha a minha vizinha me partiu uma estrutura de madeira que protegia as janelas do respiradouro do pátio.
Até aí inofensiva, a minha vizinha demonstrou da pior forma uma total falta de civismo, de educação, das mais elementares regras de convivência. Ou dito de uma outra forma:
Helena, seu bicho cobarde e rasteiro, escória da humanidade, vai morrer longe e leva a infelicidade contigo!
Thursday, August 25, 2005
Life is not like a box of chocolates
Esta citação do Forrest Gump irrita-me, digamos, sobremaneira.
Primeiro, porque me lembra a voz trémula e lamechas da Sally Field, e eu não gosto da Sally Field, com aquele ar de quem nunca se divertiu senão em bailes de paróquia e o nariz empinado que parece ser o resultado trágico de um cruzamento entre a Barbra Streisand e um french poodle. E depois ainda nos quer ensinar o que é a vida.
Segundo, porque a vida não é como uma caixa de chocolates, por mais paralelismos que se façam e por melhores que sejam os chocolates. Nunca encontrei um que me desse o frio no estômago que sentimos antes de um primeiro beijo, que me arrepiasse como a areia sobre a pele molhada, ou que me fizesse sentir a vibração de cada veia do meu corpo e a respiração profunda que nos percorre depois do Amor. Embora uma vez tenha chegado bem perto com um Côte D'Or.
Em matéria de citações cinematográficas sobre a vida, a última que me chamou a atenção foi esta. Não é a vida toda, mas parte dela.
Life is not about how much breaths you take, it's about the moments that take your breath away.
Primeiro, porque me lembra a voz trémula e lamechas da Sally Field, e eu não gosto da Sally Field, com aquele ar de quem nunca se divertiu senão em bailes de paróquia e o nariz empinado que parece ser o resultado trágico de um cruzamento entre a Barbra Streisand e um french poodle. E depois ainda nos quer ensinar o que é a vida.
Segundo, porque a vida não é como uma caixa de chocolates, por mais paralelismos que se façam e por melhores que sejam os chocolates. Nunca encontrei um que me desse o frio no estômago que sentimos antes de um primeiro beijo, que me arrepiasse como a areia sobre a pele molhada, ou que me fizesse sentir a vibração de cada veia do meu corpo e a respiração profunda que nos percorre depois do Amor. Embora uma vez tenha chegado bem perto com um Côte D'Or.
Em matéria de citações cinematográficas sobre a vida, a última que me chamou a atenção foi esta. Não é a vida toda, mas parte dela.
Life is not about how much breaths you take, it's about the moments that take your breath away.
Tuesday, August 23, 2005
Estrela Open Air - o Cartaz
Depois da "ante-estreia" ontem do Batman Begins, está finalmente disponível o cartaz completo do Estrela Open Air 2005. Devo realçar que a qualidade de som e imagem, a par do cenário fabuloso do Jardim da Estrela compensam largamente o ocasional casal de velhinhos que decidiu pôr a conversa em dia ali mesmo na fila F do cinema, e no fundo só temos que respeitar porque afinal estamos no território deles.
É todos os dias às 22h, e a entrada é livre.
Aqui está o cartaz:
Dia 23 - Closer (Hoje)
Dia 24 - Hitch
Dia 25 - Kung Fu Zao
Dia 26 - Blade Trinity
Dia 27 - Assalto à 13ª Esquadra
Dia 28 - Oceans 12
Dia 29 - Constantine
Dia 30 - Ligação de Alto Risco
Dia 31 - A Domadora de Baleias
Wednesday, August 17, 2005
Lost Friends
Amigos de infância, amigos do liceu, amigos de férias, amigos da universidade, amigos de copos e de noitadas, amigos dos amigos. Ao longo da vida vamos conhecendo pessoas e fazendo delas merecedoras do título de "amigo".
Às vezes temos muito pouco em comum, pouco mais do que a mesma vontade de fugir a correr para o recreio para jogar aos berlindes e puxar as tranças às miúdas, mas é o suficiente para acharmos que vamos ser melhores amigos a vida toda.
Mas vamos crescendo, mudamos de casa, de escola ou de país até, mudamos de gostos e de aspirações e quase sem darmos por isso deixamos simplesmente de nos encontrar.
Se já tiveram um jantar de liceu ou um reencontro de amigos do colégio sabem como a experiência veste de desilusão as nossas memórias. Revemos miúdos agora com barba por fazer e voz grossa, as raparigas casaram-se e os olhos azuis que nos encantaram já não são os mesmos. Todos se tornaram desinteressantemente em engenheiros, médicos ou gestores e ocupam-se agora das coisas sérias da vida. Somos todos velhos quando nos comparamos com a infância.
Adoro os meus amigos de hoje, os de sempre e os que chegaram, os que foram escolhidos e me escolheram para o grupo mais restrito dos que continuam.
Mas lembro também os amigos que passaram, porque deixaram de ser parte da minha vida mas serão sempre parte de mim.
Ao Nicolas, ao Alexander, ao Zé Filipe, ao Becas, ao Daniel, à Madalena, à Ana Isabel, ao Pedro e a tantos outros.
Obrigado a vocês, crianças eternas, onde quer que estejam.
Às vezes temos muito pouco em comum, pouco mais do que a mesma vontade de fugir a correr para o recreio para jogar aos berlindes e puxar as tranças às miúdas, mas é o suficiente para acharmos que vamos ser melhores amigos a vida toda.
Mas vamos crescendo, mudamos de casa, de escola ou de país até, mudamos de gostos e de aspirações e quase sem darmos por isso deixamos simplesmente de nos encontrar.
Se já tiveram um jantar de liceu ou um reencontro de amigos do colégio sabem como a experiência veste de desilusão as nossas memórias. Revemos miúdos agora com barba por fazer e voz grossa, as raparigas casaram-se e os olhos azuis que nos encantaram já não são os mesmos. Todos se tornaram desinteressantemente em engenheiros, médicos ou gestores e ocupam-se agora das coisas sérias da vida. Somos todos velhos quando nos comparamos com a infância.
Adoro os meus amigos de hoje, os de sempre e os que chegaram, os que foram escolhidos e me escolheram para o grupo mais restrito dos que continuam.
Mas lembro também os amigos que passaram, porque deixaram de ser parte da minha vida mas serão sempre parte de mim.
Ao Nicolas, ao Alexander, ao Zé Filipe, ao Becas, ao Daniel, à Madalena, à Ana Isabel, ao Pedro e a tantos outros.
Obrigado a vocês, crianças eternas, onde quer que estejam.
Tuesday, August 16, 2005
Salvem as Delícias do Mar!
Esta maravilha da genética está para mim entre o top dos grandes mistérios da humanidade. Algures entre o Triângulo das Bermudas e o frequente desaparecimento de meias das nossas gavetas.
A Delícia do Mar. O próprio nome é um verdadeiro embuste publicitário. Primeiro, Delícia aquilo não é de certeza. Sabe a plástico que se farta. E não me consta que tenha alguma vez visto o mar. Alguém já viu um cardume de Delícias do Mar, alegremente agitando as barbatanas entre algas e corais? Uma reportagem do Odisseia sobre a época de desova das Delícias do Mar? Alguém já pediu uma Delícia do Mar escalada no Aqui há Peixe?
Para quem se interessa por iguarias gastronómicas, fiquem a saber que a Delícia do Mar é uma pasta comprimida de restos de um peixe de baixo valor comercial chamado surimi , à qual é retirado o sabor e a cor, e no fim adicionado um aroma de caranguejo ou lagosta. Yum, yum...
Indiferente a estas questões, nesta new age da alimentação pós-vacas loucas em que tudo o que comemos e bebemos é passado a pente fino, a delícia do mar subsiste, imune aos tempos.
É um pouco como a Coca Cola. Ninguém sabe de que é feita, tem um aspecto escuro e esquisito, é hiper calórica e mesmo assim continuamos a dá-la às criancinhas. Mas a Coca Cola ainda percebo, sempre tem um marketing fortíssimo, 40.000 funcionários, estratégias promocionais agressivas e o poderoso lobby da maior multinacional do mundo.
O que permanece um mistério para mim é como é que a Delícia do Mar, sem lobby ou marketing que se veja e com meios que não devem ir para além de um gabinete sabujo e uma arrecadação nas traseiras do Porto de Leixões, continua a ser encontrada em qualquer supermercado e tasquinhas deste país.
Ao menos chamem-lhe Torresmo do Mar, que é o que aquela #@ é!
Estrela Open Air
De 22 a 31 de Agosto, ou seja a partir da próxima 2ª feira, vai haver de novo cinema ao ar livre em pleno Jardim da Estrela.
O cartaz ainda não está anunciado, mas também não é o mais importante. Com árvores centenárias a toda a volta, a Basílica bem perto e o céu estrelado por cima, o cenário é imperdível. Ah, e é entrada livre, o que se agradece em tempos de crise.
Thursday, July 28, 2005
Ayutthaya, Tailândia
A poucos quilómetros a norte de Bangkok, esta cidade histórica faz também parte do Best of da Humanidade segundo a Unesco. Tal como Sukkothai, no norte da Tailândia, esta cidade preserva a memória histórica do antigo Reino de Sião, tendo sobrevivido a pilhagens e ocupações ao longe de séculos de intermitentes guerras com a Birmânia.
Um parque natural povoado de templos e estátuas do buddha adornadas de panos cor de açafrão, para percorrer calmamente de bicicleta por um dia inteiro. A confirmar in loco assim que possível.
Thursday, July 21, 2005
Best of Cannes - Vida de Cão
Tuesday, July 19, 2005
Razões para não emigrar
Anda tudo a querer sair de Portugal. A crise económica, os políticos, o túnel do Marquês, os fogareiros que escarram no chão sem pré-aviso, os Batanetes, enfim, há um sem-fim de razões para querermos embarcar no próximo avião para a Austrália.
Mas em prol da auto-estima nacional, diga-se que se não emigramos mesmo é porque há de facto razões para não querermos viver em mais lado nenhum. Para além da família, dos amigos, e do Benfica, claro.
Algumas das melhores razões para não emigrar, ou porque é que eu adoro a minha cidade e o país onde vivo:
- A vista de Lisboa ao entrar pela Ponte 25 de Abril.
- Viver em Lisboa a 15 minutos da praia.
- Não fazermos parte dos mapas da Al Qaeda.
- As noites de Verão, todas.
- Um fim de semana num turismo de habitação no Alentejo, ou noutro sítio qualquer.
- A bela da amarguinha, com gelo e limão.
- Um multibanco em cada esquina dá sempre jeito.
- O cheiro característico do Algarve, quando abrimos a janela do carro pela primeira vez à chegada.
- Toda a comida, e não só o peixe grelhado. Do Alentejo, principalmente.
- Em particular: amêijoas, caracóis, percebes, sardinhadas, migas, porco preto, chocos grelhados, caldo verde.
- A pastelaria. Mostrem-me um país que tenha um bom pastel de nata ou travesseiros.
- O café, também conhecido como "a bica". Curto, pingado, à italiana, comprido ou escaldado. E a meia de leite, galão, carioca e garoto.
- A nossa mania carinhosa de acabar palavras com "inho". "Um cafézinho", "um jantarinho", etc.
- Aquelas duas palavras que só existem em português: "saudade" e "desenrascar".
- Ainda sermos uma pequena aldeia de 10 milhões de vizinhos.
- Apesar de pequeno ainda tem infinitos sítios por descobrir.
Mas em prol da auto-estima nacional, diga-se que se não emigramos mesmo é porque há de facto razões para não querermos viver em mais lado nenhum. Para além da família, dos amigos, e do Benfica, claro.
Algumas das melhores razões para não emigrar, ou porque é que eu adoro a minha cidade e o país onde vivo:
- A vista de Lisboa ao entrar pela Ponte 25 de Abril.
- Viver em Lisboa a 15 minutos da praia.
- Não fazermos parte dos mapas da Al Qaeda.
- As noites de Verão, todas.
- Um fim de semana num turismo de habitação no Alentejo, ou noutro sítio qualquer.
- A bela da amarguinha, com gelo e limão.
- Um multibanco em cada esquina dá sempre jeito.
- O cheiro característico do Algarve, quando abrimos a janela do carro pela primeira vez à chegada.
- Toda a comida, e não só o peixe grelhado. Do Alentejo, principalmente.
- Em particular: amêijoas, caracóis, percebes, sardinhadas, migas, porco preto, chocos grelhados, caldo verde.
- A pastelaria. Mostrem-me um país que tenha um bom pastel de nata ou travesseiros.
- O café, também conhecido como "a bica". Curto, pingado, à italiana, comprido ou escaldado. E a meia de leite, galão, carioca e garoto.
- A nossa mania carinhosa de acabar palavras com "inho". "Um cafézinho", "um jantarinho", etc.
- Aquelas duas palavras que só existem em português: "saudade" e "desenrascar".
- Ainda sermos uma pequena aldeia de 10 milhões de vizinhos.
- Apesar de pequeno ainda tem infinitos sítios por descobrir.
Friday, July 15, 2005
Ideias para um filme - o Twist Total
A indústria de Hollywood anda fraca de ideias. Cada vez mais, em vez de apostar numa ideia realmente original, atira milhões de dólares para cima de um orçamento, na esperança que um nome sonante no cartaz e um festim de efeitos especiais disfarcem a falta de um bom argumento.
Mas em vez de nos continuarmos a queixar, é tempo de contribuir com ideias concretas para salvar a indústria do cinema.
A minha ideia de hoje é o Twist Total.
Nos últimos anos, filmes como o Sexto Sentido ou Usual Suspects lançaram um género: o twist. Consiste em construir um argumento linear até aos últimos 5 minutos do filme, e aí dar uma reviravolta total na história. Alguns destes filmes ficaram para a história do cinema, mas também esta fórmula está gasta, depois de inevitavelmente ter sido copiada à exaustão.
O Twist Total vai um passo à frente. Aqui o objectivo é dar vários twists à história, ao longo do filme. Mais: em cada twist, o filme muda radicalmente de género.
Imaginem isto: um filme com Morgan Freeman, Haley Joel Osment, Gary Oldman e Juliette Binoche. Casting de respeito.
O filme tem tudo para ser um drama romântico, uma mistura de Shawshank Redemption e O Paciente Inglês. E durante 45 minutos, assim é, quase a levar-nos às lágrimas.
Mas no primeiro twist, o filme supreendentemente muda de género, para o filme de terror. Afinal o pequeno Haley Joel não é apenas um miúdo gago e inadaptado no liceu, está na verdade possuído por um espírito maligno que o força a gaguejar palavrões e a vomitar o conteúdo da lancheira para cima dos professores, e Gary Oldman é encarregue de o exorcizar.
Depois de 15 minutos de sangue na pior tradição gore, novo twist para a comédia non-sense, tipo Dumb & Dumber. Durante meia hora assistimos ao Morgan Freeman a rir-se dos seus próprios traques e a um memorável festival de arrotos da Juliette Binoche.
Subitamente, toda a gente começa a cantar sem motivo aparente e o filme transforma-se num musical, Gary Oldman a mostrar os seus passos de dança e o Haley Joel a fazer breakdance. Um pouco desnecessário, mas sem dúvida surpreendente e apreciado pelos fãs do musical.
E para fechar em grande, de repente toda a gente se despe e temos uma ponta final inédita com 5 minutos do mais intenso porno, incluindo 2 anões e um nigeriano.
Já consigo imaginar as salas de cinema em euforia!
Hollywood, não tens nada que agradecer.
Mas em vez de nos continuarmos a queixar, é tempo de contribuir com ideias concretas para salvar a indústria do cinema.
A minha ideia de hoje é o Twist Total.
Nos últimos anos, filmes como o Sexto Sentido ou Usual Suspects lançaram um género: o twist. Consiste em construir um argumento linear até aos últimos 5 minutos do filme, e aí dar uma reviravolta total na história. Alguns destes filmes ficaram para a história do cinema, mas também esta fórmula está gasta, depois de inevitavelmente ter sido copiada à exaustão.
O Twist Total vai um passo à frente. Aqui o objectivo é dar vários twists à história, ao longo do filme. Mais: em cada twist, o filme muda radicalmente de género.
Imaginem isto: um filme com Morgan Freeman, Haley Joel Osment, Gary Oldman e Juliette Binoche. Casting de respeito.
O filme tem tudo para ser um drama romântico, uma mistura de Shawshank Redemption e O Paciente Inglês. E durante 45 minutos, assim é, quase a levar-nos às lágrimas.
Mas no primeiro twist, o filme supreendentemente muda de género, para o filme de terror. Afinal o pequeno Haley Joel não é apenas um miúdo gago e inadaptado no liceu, está na verdade possuído por um espírito maligno que o força a gaguejar palavrões e a vomitar o conteúdo da lancheira para cima dos professores, e Gary Oldman é encarregue de o exorcizar.
Depois de 15 minutos de sangue na pior tradição gore, novo twist para a comédia non-sense, tipo Dumb & Dumber. Durante meia hora assistimos ao Morgan Freeman a rir-se dos seus próprios traques e a um memorável festival de arrotos da Juliette Binoche.
Subitamente, toda a gente começa a cantar sem motivo aparente e o filme transforma-se num musical, Gary Oldman a mostrar os seus passos de dança e o Haley Joel a fazer breakdance. Um pouco desnecessário, mas sem dúvida surpreendente e apreciado pelos fãs do musical.
E para fechar em grande, de repente toda a gente se despe e temos uma ponta final inédita com 5 minutos do mais intenso porno, incluindo 2 anões e um nigeriano.
Já consigo imaginar as salas de cinema em euforia!
Hollywood, não tens nada que agradecer.
Wednesday, July 13, 2005
Pequenas expressões - Parte I
Há pequenas expressões deliciosas, frases curtas que brincam com as palavras para nos entreter. Não se sabe de onde vêm, nem para onde vão, sabemos apenas que muitas caem no esquecimento e algumas tornam-se uso comum.
Desde os publicitários "Primeiro estranha-se, depois entranha-se", ou "Há mar e mar, há ir e voltar", poetas de profissão e de ocasião lançam estas pérolas de tempos a tempos, para nos inspirar com a magia das palavras. Ou simplesmente para nos safar daqueles momentos embaraçosos de silêncio em que não temos absolutamente nada para dizer.
Hoje ouvi uma simplesmente genial, para substituir a palavra "repto", livrando-nos do seu uso excessivamente formal:
"Vamos lançar um réptil"
(...)
[Não consigo tirar esta imagem mental da cabeça]
Desde os publicitários "Primeiro estranha-se, depois entranha-se", ou "Há mar e mar, há ir e voltar", poetas de profissão e de ocasião lançam estas pérolas de tempos a tempos, para nos inspirar com a magia das palavras. Ou simplesmente para nos safar daqueles momentos embaraçosos de silêncio em que não temos absolutamente nada para dizer.
Hoje ouvi uma simplesmente genial, para substituir a palavra "repto", livrando-nos do seu uso excessivamente formal:
"Vamos lançar um réptil"
(...)
[Não consigo tirar esta imagem mental da cabeça]
Friday, July 08, 2005
Silesian Song - Marcin Gorski
Thursday, July 07, 2005
World Jump Day
Dia 20 de Julho de 2006 é o World Jump Day. O site oficial é www.worldjumpday.org, e já está em contagem decrescente.
A ideia é: se no próximo dia 20 Julho 2006, 600 milhões de pessoas saltarem ao mesmo tempo em todo o mundo, o planeta Terra terá "uma ligeira mudança de órbita" que pode salvar-nos da ameaça do aquecimento global! Esta teoria é suportada por um grupo de cientistas alemães, chefiados pelo Prof. Hans Peter Niewsard de Munique, o que promete rigor e precisão a toda a prova. Deutsche technologie.
Este acontecimento levanta uma série de perguntas. Eu só tenho uma:
"E se as coisas derem para o torto?"
E se a ligeira alteração de órbita não for tão ligeira assim, o que é que acontece? Qual é o Plano B? Entramos em piloto automático? Tornamo-nos um satélite de Júpiter? Vamos jogar bowling com o sistema solar? Será que o cenário de implodirmos a Terra está fora de hipótese?
A todas estas perguntas, o Prof. Hans Peter deve ter pensado "Ah, que se lixe, eu até costumo ter sorte aos dados".
No fundo isto parece mais ideia de um português para resolver o problema do aquecimento global. "Reduzir as emissões poluentes? Poupar energia e não abrir tantas vezes o frigorífico? Protocolo de Quioto? Isso dá imenso trabalho! Aposto que se todos dessemos um salto isto ía ao sítio!"
World Jump Day. Por um mundo melhor. Ou não.
A ideia é: se no próximo dia 20 Julho 2006, 600 milhões de pessoas saltarem ao mesmo tempo em todo o mundo, o planeta Terra terá "uma ligeira mudança de órbita" que pode salvar-nos da ameaça do aquecimento global! Esta teoria é suportada por um grupo de cientistas alemães, chefiados pelo Prof. Hans Peter Niewsard de Munique, o que promete rigor e precisão a toda a prova. Deutsche technologie.
Este acontecimento levanta uma série de perguntas. Eu só tenho uma:
"E se as coisas derem para o torto?"
E se a ligeira alteração de órbita não for tão ligeira assim, o que é que acontece? Qual é o Plano B? Entramos em piloto automático? Tornamo-nos um satélite de Júpiter? Vamos jogar bowling com o sistema solar? Será que o cenário de implodirmos a Terra está fora de hipótese?
A todas estas perguntas, o Prof. Hans Peter deve ter pensado "Ah, que se lixe, eu até costumo ter sorte aos dados".
No fundo isto parece mais ideia de um português para resolver o problema do aquecimento global. "Reduzir as emissões poluentes? Poupar energia e não abrir tantas vezes o frigorífico? Protocolo de Quioto? Isso dá imenso trabalho! Aposto que se todos dessemos um salto isto ía ao sítio!"
World Jump Day. Por um mundo melhor. Ou não.
Yunnan, China
Estive a ver a lista dos "World Heritage Sites" da UNESCO, em whc.unesco.org
São 788 maravilhas do mundo, em 134 países! So many places, so little time.
Podem lá ir ver o que é que a Unesco classifica como património insubstituível da Humanidade em Portugal...
Esta é a minha "maravilha do mundo" de hoje. Província de Yunnan, no sul da China.
Enquanto houver sítios assim não me vou cansar de viajar...
Friday, July 01, 2005
O que importa é partir...
Aparelhei o barco da ilusão
E reforcei a fé de marinheiro
Era longe o meu sonho e traiçoeiro o mar
(Só nos é concedida
Esta vida que temos
E é nela que é preciso
Procurar o velho paraíso
Que perdemos.)
Prestes, larguei a vela
E disse adeus ao cais, à paz tolhida.
Desmedida,
A revolta imensidão
Transforma dia a dia a embarcação
Numa errante e alada sepultura...
Mas corto as ondas sem desanimar.
Em qualquer aventura.
O que importa é partir não é chegar.
Miguel Torga
E reforcei a fé de marinheiro
Era longe o meu sonho e traiçoeiro o mar
(Só nos é concedida
Esta vida que temos
E é nela que é preciso
Procurar o velho paraíso
Que perdemos.)
Prestes, larguei a vela
E disse adeus ao cais, à paz tolhida.
Desmedida,
A revolta imensidão
Transforma dia a dia a embarcação
Numa errante e alada sepultura...
Mas corto as ondas sem desanimar.
Em qualquer aventura.
O que importa é partir não é chegar.
Miguel Torga
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