O homem é um animal social. Esta premissa filosófica estabelecida por John Locke no século XVII é ainda hoje geralmente aceite, excepto quando vamos à casa de banho, onde francamente nos sabe bem um pouco de sossego.
O homem vive e define-se em sociedade, aliás a maioria das nossas qualidades e defeitos são facilmente amplificados ou anulados pelas nossas aptidões sociais. Um tipo com uma inteligência claramente acima da média é completamente inútil para a sociedade quando se torna insuportável para todos os que o rodeiam. Ninguém gosta de ser gozado. Preferimos sempre ter por companhia pessoas relativamente inaptas no que toca a apreciar ópera ou recitar o alfabeto grego, desde que sejam bons compinchas de copos ou consigam contar até 10 num único arroto.
Vivemos em diferentes grupos e neles construímos a nossa memória e identidade. O nosso grupo de amigos de infância, o grupo da escola ou da universidade, o grupo do nosso primeiro emprego, cada um lembra-nos de como éramos nessa altura. Transitamos de um grupo para outro, e como um camaleão vamos subtilmente ganhando novas cores enquanto muda o nosso pano de fundo.
Há um momento precioso na vida de cada grupo em que se atinge a sintonia perfeita. Cada pessoa conhece bem o seu papel, há uma química estabelecida no relacionamento mútuo, uma linguagem própria e apertos-de-mão secretos. Trocamos alcunhas e damos alegremente calduços uns aos outros. Podemos ser os palhaços do grupo, o porreiraço ou o chonas, o gajo que manda as piadas ou o gajo sobre quem se contam piadas, mas temos sempre orgulho em fazer parte do grupo.
Por vezes essa harmonia perde-se, sem se dar por isso, porque alguém muda de emprego ou muda de cidade, porque um casal se separa, porque alguém deixou de ter tempo para dedicar à tribo ou porque a vida o mudou não apenas por fora. Todos os outros continuam, os mesmos, mas juntos já não são exactamente o mesmo. Perde-se o momentum do grupo, a zona de conforto, esse período dourado em que um grupo é muito mais que a soma das partes.
É assim em tudo. A equipa do Benfica dos anos 60, o elenco original do Ally McBeal, o grupo de amigos do colégio, a maioria dos grupos não resiste ao tempo e à mudança, deixam de se encontrar nas suas rotinas. Life goes on. Talvez tenham tido provas de fogo que não conseguiram superar. Talvez tenha havido um momento em que alguns cresceram demasiado depressa e deixaram de se rir das mesmas piadas.
Mas outros, como o elenco do Seinfeld ou do Friends, mantêm a magia, conseguem evoluir sem perder a espontaneidade, talvez porque se mantenham infantis depois de muitos anos que atravessam casamentos e primeiros filhos, ou talvez por saberem que é sempre melhor continuar juntos a ver como a vida nos muda.
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1 comment:
Ao Manel Alfredo de cada um de nós...
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