O Mário Crespo é a Sophia Loren da televisão portuguesa. Soube envelhecer sem se tornar um vestígio televisivo dos anos oitenta, imune à júlioisidrisação que atacou todos os outros apresentadores do seu tempo, que acabaram a apresentar o sorteio da Lotaria Nacional ou a anunciar trens de cozinha no TV Shop. Eládio Clímaco, Luís Pereira de Sousa, Serenella Andrade. Se tivessem partido, como o Carlos Paião ou o António Variações, todos os lembrariam com saudade. Continuando, são como aquelas fotografias antigas de quando éramos bimbos, que preferimos esconder no fundo da gaveta.
O Mário Crespo não lê as notícias, aliás raramente olha para o papel ou para o teleponto. Talvez seja mais consequência da miopia que estilo jornalístico, mas não deixa de ter o seu charme. Ele conta-nos uma história, devagar, docemente, sem pressa de chegar ao fim, pedindo licença para nos dar as notícias com as palavras dele. Se estivermos distraídos, ouvindo-o ao longe parece que subitamente Israel fez a paz com os palestinianos e que foi descoberta uma vacina para a Sida.
A apresentar o 60 Minutes, sente-se a sua paixão pela profundidade das notícias, pela investigação, pela verdade, como se tivesse estado lá no terreno e preparado exaustivamente todas as perguntas a fazer. Ele sabe do que fala. Mesmo que faça só uns trechos de ligação entre as reportagens da CBS, cumpre o papel com a dignidade que se impõe ao serviço cívico, diligente, sóbrio, eficaz.
Uma das grandes qualidades do Mário Crespo é a simplicidade de não precisar de mais do que dois nomes para se afirmar. Rodrigo Guedes de Carvalho, José Rodrigues dos Santos, José Alberto Carvalho, Fátima Campos Ferreira, Alberta Marques Fernandes. Que raio, até a Judite Sousa insiste em ser Judite de Sousa!
O Mário Crespo é o velho Panoramix das histórias do Asterix, o druida, o sábio, guardião da sua tribo. O nosso Walter Cronkite, Tom Brokaw ou Peter Jennings. Uma âncora da televisão portuguesa, um refúgio da histeria sensacionalista dos tempos, que pode não ter sempre as melhores notícias para nos dar, mas estará sempre lá para que possamos compreender e aceitar um pouco melhor o mundo em que vivemos, todos os dias.
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3 comments:
Mário Crespo. Ainda me lembro do seu F***-se dito alto e bom som numa reportagem algures no mundo.
Se o Mário Crespo é chato e feio, então o Mosteiro dos Jerónimos é piroso!
Um ex-líbris é sempre um ex-líbris.
eh, eh, grande Serenella! Para quando um tributo?
Não se preocupe que no seu caso, os dois "ll" no nome próprio dispensam o tríptico do costume.
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