Monday, November 21, 2005

29

Fiz anos este Sábado. Vinte e nove. Não há nada de bom ou mau nisso, apenas um número diferente, que significa apenas mais um, e menos um também.

Há muitos anos perdi a fé na ideia da imortalidade, aquela ilusão de infância de que um dia, ainda no nosso tempo, a ciência encontrará uma cura para a morte. Procurei em Deus e no Homem, mas em nenhum encontrei conforto para o desassossego que me causava a ideia da morte. Em todas as ocasiões que a enfrentei desiludiu-me sempre.

Aos 29, talvez a juventude me comece a faltar e ainda a maturidade não tenha chegado para o compensar. Mas conheço já algumas das coisas da vida e escrevo os primeiros esboços da minha própria filosofia. Não acredito em viver cada dia como se fosse o último, essa fantasia adolescente que só se concretiza numas quantas noites de copos, mas que nunca chega a modo de vida. Amanhã acordamos de novo, as costas voltadas para o despertador, e voltamos todos para o escritório.

Acredito antes em viver esta vida como se fosse só uma. Esquecemo-nos demasiadas vezes que é só isto, e é tudo isto. Não há prolongamentos ou segundas oportunidades, e talvez esteja aí a beleza. Tudo o que é escasso é um pouco mais belo, um fogo de artifício, uma vela, o calor de uma lareira. Todos se recusam a ser cinza, e são sublimes no esplendor a que se entregam sem renúncia.

Anoto cá dentro todas as palavras que me aquecem e uso-as como cobertores sobre quem amo. Descalço a rotina sempre que posso. Acordo e decido continuar um sonho, porque nenhum risco é maior que o de nunca nos cumprirmos.

Vou procurar o velho paraíso e percorrer o mundo para tentar sentir um pouco do seu tamanho, encontrá-lo talvez entre os mares matinais do Índico e um entardecer estrelado no deserto de Atacama. A ti que me acompanhas nesta e noutra viagem, continuarei a dizer todos os dias que te amo, sempre que me apetecer, simplesmente porque o sinto e sinto cada vez mais.

Talvez um dia me vá embora, mas será sem arrependimentos. Tenho agora vinte e nove anos, mais um, e menos um também. Não importa, afinal há quem nunca comece a viver sequer.

3 comments:

MacCoy said...

estive a ler o teu blog. estas armado em gay???????? acho que nunca vi um caso tã grave...vamos ter que chamar o fernando!! eheh!
mas tá boa, tá boa. seize the life, instead of seize the day.
aquele!

João Vale said...

Desculpa lá Maccoy, devia ter-te preparado para isto. It's just my soft side, everybody has one.

Aquele

Modear, um pouco de comic relief: é verdade que a nossa vida continua nos outros quando partimos, mas a partir dessa altura é mais difícil combinarmos almoços. Bjo grande.

Bluedog said...

É muito bom ver-te construir a estrada...e por ela seguires em companhia tão querida.